O que precisamos saber sobre Klesiella pneumoniae carbapenemase (KPC)

Márcia Borges Machado - Diretoria de Vigilância FMSRC

                                                                                                                       Outubro  2010

 Klesiella pneumoniae carbapenemase (KPC) foi o nome dado a uma bactéria mutante, a partir  da bactéria Klesiella pneumoniae, que é uma Enterobacteria bastonete Gram-negativo anaeróbio facultativo, que faz parte da microbiota intestinal humana.

 Apesar de mais divulgada atualmente, esta e outras bactérias, especialmente bastonetes Gram-negativo vêm apresentando, nos últimos anos, níveis cada vez mais altos de resistência aos antimicrobianos, por diversos tipos de mutação genética, que são também transmitidas a outras bactérias, por meio de plasmídeos.  As mutações ocorrem especialmente devido ao uso de antimicrobianos de largo espectro, pela morte das bactérias sensíveis e sobrevivência das mutantes, que se tornam  capazes de produzir enzimas chamadas betalactamases, que inativam os antibióticos betalactâmicos. Algumas betalactamases  possuem espectro de ação mais extendido, sendo capazes de inativar todas as penicilinas, cefalosporinas e carbapenens  (ertapenem, meropenem, imipenem) - são as carbapenemases.

A Klesiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é um dos tipos de carbapenemase, que leva este nome por ter sido inicialmente identificada em isolados de Klesiella pneumoniae. Posteriormente sua produção foi também documentada em outras bactérias, tais como Klesiella oxytoca, Pseudomonas aeruginosa,  Acinetobacter,  Salmonella, Proteus e Enterobacter. Esta enzima emergente vem se comportando como  importante mecanismo de resistência no contexto hospitalar mundial. No Brasil, o primeiro caso de infecção notificada se deu em Recife, no ano de 2005 e no Distrito Federal, a primeira ocorrência registrada foi em janeiro de 2010, mas tratam-se de bactérias existentes em hospitais terciários de várias grandes capitais brasileiras e de outros países. 

As bactérias produtoras desta enzima podem causar infecções em pacientes imunocomprometidos ou submetidos a procedimentos invasivos, como cirurgias, intubação traqueal, ventilação mecânica e sondagem vesical, podendo causar infecção urinária, pneumonia, infecção em ferida cirúrgica e septicemia. Outros fatores de risco são internação hospitalar, especialmente em unidades de terapia intensiva e uso prévio de antimicrobianos de largo espectro. Com resistência a todos os antibióticos betalactâmicos, o tratamento das infecções causadas por bactérias produtoras de KPC  torna-se um desafio do ponto de vista terapêutico. A Polimixina, droga pertencente ao grupo dos Polipeptídeos e muito tóxica, é praticamente a única opção terapêutica. A Tigeciclina  pertencente a uma nova classe de antimicrobianos, as Glicilciclinas, é outra opção terapêutica, porém seu uso é ainda bastante restrito.

Bactérias produtoras de KPC são encontradas apenas nos hospitais, pois os pacientes são os próprios portadores.   A transmissão, levando à colonização ou infecção, se dá principalmente por contato com secreções dos pacientes colonizados e infectados. Como em todos os casos de infecções hospitalares, a principal medida de prevenção, tanto para profissionais como para visitantes, é a correta higienização das mãos antes e após contato com qualquer paciente ou com seus pertences, ressaltando-se a importância do uso de álcool gel sempre que possível.

 

 

Bibliografia

1.      Dienstmann R,  Picoli SU, Meyer G, Schenke T, Steyer J, Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar. J. Bras. Patol. Med. Lab. vol.46 no.1 Rio de Janeiro Feb. 2010

 

2.      Bradford, P. A. et al. Emergence of carbapenem-resistant Klebsiella species possessing the class A carbapenemhydrolyzing KPC-2 and inhibitor-resistant TEM-30 beta-lactamases in New York City. Clin Infect Dis, v. 39, n. 1, p. 55-60, 2004

 

3.      Zinner SH (Ed.) Antimicrobials and tigecycline. Clinical infectious diseases. 2005;41(suppl 5):S289-S367.

 

4.      Falagas ME, Kasiakou SK. Toxicity of polymyxins: a systematic review of the evidence from old and recent studies. Crit Care. 2006;10:R27.